Entrevista à Dra. Helena Loureiro: "o sono tem sido uma área explorada a nível mundial"

 

"A longo prazo, em termos de saúde pública, o aumento de doenças cardiovasculares, o aumento de consumo de fármacos para dormir, assim como morbilidade/mortalidade precoces tem um impacto muito significativo."

 

 

Dra. Helena Loureiro: Médica Pediatra, Diretora do Serviço de Pediatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca e Responsável pelo Centro do Sono Pediátrico do mesmo Hospital. Em 2013 terminou o Mestrado em Ciências do Sono pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Cofundadora da Associação Portuguesa da Cronobiologia e Medicina do Sono e Membro da Associação Portuguesa do Sono desde 2012. É membro da European Sleep Research Society desde 2015, assim como da World Sleep Foundation (2018). Em 2016 obteve o Título de Somnologista pela European Sleep Research Society. Várias publicações nacionais e internacionais na área da Medicina do Sono.

 

 

 

O Sono tem sido uma área cada vez mais explorada a nível mundial, contudo, os problemas associados ao sono na infância e adolescência são cada vez mais conhecidos. Na sua opinião, a que se devem estes problemas de sono nesta população específica?

 

A Medicina do sono é relativamente recente, pelo que temos vindo a aprofundar conhecimentos nesta área em todos os grupos etários. O período da vida do ser humano em que se verificam mais transformações relativamente ao sono é precisamente na infância e adolescência.

 

O aprofundar de conhecimentos quer em termos de fisiologia /fisiopatologia, quer em termos de comportamento tem sido fundamental: muitas das perturbações de sono que se verificam estão relacionadas com as mudanças na sociedade em que vivemos, a luz de uma forma artificial numa sociedade que vive 24/24h, vida mais agitada, maior tempo destinado ao uso de ecrã, menor tempo dos pais para se relacionarem com os filhos e consequente dificuldade na imposição de algumas regras, assim como o acesso a conteúdos muitas vezes inadequados e que geram ansiedade em pessoas vulneráveis, são tudo fatores que contribuem para um maior impacto destes distúrbios de sono nesta população.

 

Este aspeto é ainda mais importante, se pensarmos que, a não resolução destes problemas numa população jovem tem um consequente impacto na saúde pública em relação a comorbilidades, comportamentos aditivos e aumento dos custos em saúde.

 

 

Mudar comportamentos atempada e precocemente nos hábitos de sono pode ter um importante impacto a curto, médio e longo prazo na vida das crianças e pais. O que precisamos de fazer para começarmos a ter resultados face a esta mudança?

 

É importante explicar o impacto a curto prazo na vida do dia-a-dia, uma pessoa que não dorme, em qualquer idade não tem um bom desempenho no dia seguinte, o que é importante quer para a criança quer para a família pois a tolerância diminui e a agressividade aumenta.

 

A médio prazo, o que neste grupo criança /adolescente adquire especial relevância, em termos de desenvolvimento cognitivo, desempenho escolar e comportamentos aditivos, assim como consequências orgânicas como a obesidade.

 

A longo prazo, em termos de saúde pública, o aumento de doenças cardiovasculares, o aumento de consumo de fármacos para dormir, assim como morbilidade/mortalidade precoces tem um impacto muito significativo.

 

Primeiro que tudo temos de formar/informar as pessoas acerca deste assunto. Se as pessoas conhecerem os riscos de determinados comportamentos, mais provavelmente terão tendência a evitá-los, o que será benéfico para cada um e para todos em termos de sociedade.

 

 

A Pós-Graduação do Sono na Infância e Adolescência engloba conteúdos desde a idade do recém-nascido até à adolescência, abordando não só os aspetos fundamentais do sono em cada faixa etária como as patologias do sono mais comuns e promoção de hábitos de sono saudáveis. Que ganhos considera que esta Pós-Graduação dará a médio-longo prazo face aos destinatários (educadores, professores, profissionais de saúde...)?

 

Os ganhos serão importantes pelo que referi anteriormente. Quanto maior a divulgação de informação credível e transmitida por especialistas na área, maior a probabilidade de termos os objetivos de um melhor sono nesta população atingidos. Por outro lado abrangendo como se prevê um leque vasto de pessoas que lidam com esta população permite intervir a vários níveis pois a deteção de problemas tende a ser mais precoce, o que tende a propiciar uma resolução mais adequada.

 

 

A Pós-Graduação tem uma Unidade Curricular denominada Projeto de Intervenção, em que cada estudante desenvolverá um Projeto com vista a implementar no seu contexto. Considera importante esta iniciativa? Em que sentido?

 

Considero o “Projeto de Intervenção” um dos aspetos fundamentais desta Pós-Graduação. A possibilidade de implementação de projetos inovadores na comunidade e consequente intervenção para melhoria dos problemas detetados tem um aspeto prático que considero fundamental.

 

Vai ser sugerido por pessoas que estão no terreno, os formandos, que lidam com crianças e jovens e sabem quais as suas necessidades e onde se devem/podem intervir. Esta Pós-Graduação irá capacitá-los para detetar precocemente problemas porque vai transmitir conhecimento sobre a área do sono e o projeto de intervenção permitirá elaborar, fundamentar e intervir sobre esses mesmos problemas, duma forma prática e numa comunidade que se conhece. Parece-me um aspeto bastante aliciante.

 

 

 

Pós-Graduação em "Sono na Infância e Adolescência" 

(inscrições abertas até 12 de fevereiro)

ESSCVP Notícia
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