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“O pai hoje não foi trabalhar!!”, diz a voz da minha filha mais nova, com um sorriso de lado a lado. “Não filha, hoje o pai vai trabalhar, só que vai ser em casa.” Para as minhas filhas, esta noção de trabalhar em casa não traz nada de novo, elas que estão em ensino em casa há já vários anos.
A novidade sim, foi a conceção de que o pai, que sempre saia cedo de casa e sempre voltava mais ou menos tarde, também o poderia um dia fazer. Regras novas porque a situação requer novas dinâmicas. Cartaz criado rapidamente por elas para assinalar quando o pai está a trabalhar e quando não está, e colocado no novo gabinete…o quarto.
E a dúvida começava a aparecer…como vai o pai dar aulas aos seus alunos? A tecnologia que existe deu-lhes a resposta mais cedo, dado que o ballet, música e a ginástica passaram a ser online, e as aulas de vídeo passaram a ser frequentes. A versão online passou a ser uma realidade. Tomara que todos os nossos recursos informáticos pudessem dar resposta a tantas solicitações.
Aprendemos nos últimos dias as infindáveis plataformas de reunião virtual que existem, sim porque cada um de nós tem uma preferência, mas também a professora de ginástica, de ballet, da escola secundária do meu filho… Como não existe bela sem senão, o computador da minha esposa lembrou-se de avariar, o que é muito oportuno quando as coisas passam a estar em formato online, e esta passa a ser a forma principal de contacto social.
Por isso, entre 2 telemóveis e um portátil, vamos criando o nosso horário, das aulas do pai, das aulas da mãe, das aulas dos filhos, logo 5 pessoas a necessitar de acesso, com horários agendados e a necessitar de gerir recursos informáticos. Até a net começa a tremer.
Depois o desafio de criar material para os alunos da ESSCVP, que lhes promovam o saber, que permitam quem está longe manter a sua aprendizagem, lidar com as dificuldades familiares que os estudantes também têm nesta fase, estudar processos que permitam que eles possam estudar e evoluir dentro do seu ritmo de vida alterado.
São inúmeras horas mais em frente ao computador, a dar resposta às tarefas que os estudantes prontamente executam, dar conselhos, propor melhorias, tentar diminuir as dificuldades impostas pela perda momentânea de contacto direto. E os estudantes, fenomenais, respondem plenamente, demonstram a sua motivação por ir fazendo o seu papel de aprendizes, e enchem o email e o chat com questões, dúvidas e reflexões pertinentes.
Estão a crescer enquanto estudantes, mas também enquanto profissionais responsáveis, que veem a responsabilidade de se manterem no rumo, de fazerem tudo o que está ao seu alcance e colaborarem connosco, professores, a manter a sua linha de aprendizagem. Entretanto salta o gato para o teclado, e o cão precisa de ir à rua, e é necessário fazer todos os rituais de cuidados para dar assistência às avós que estão sozinhas nas suas casas.
É preciso manter também a proximidade de todos os familiares, lutar contra o isolamento e manter viva a chama familiar. Hoje estaria a voar para a Alemanha, onde a minha irmã se iria casar. Casou mais cedo porque assim foram as condicionantes e a viagem, ficou para mais tarde quando nos pudermos todos voltar a abraçar. E o sol brilha lá fora, mostrando que a vida continua e que existem mais tarefas para corrigir, a reunião com os colegas, a interação necessária para que tudo resulte, e arregaçar as mangas. Até já na vossa classroom!
Tiago Atalaia
Professor Adjunto da Área de Ensino da Fisioterapia
Vice-Presidente do Conselho Técnico-Científico
Diretor da Área de Ensino da Osteopatia
Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa - Lisboa